Olá! Andei meio sumida
durante o mês de fevereiro e março, mas isso não quer dizer que eu não fiz
muitas leituras... Pelo contrário, fiz algumas, e todas são muito boas! Agora
estou aqui para contar um pouquinho dessas histórias para vocês. Vem comigo!
O primeiro livro que
quero destacar é “Quarto de despejo”, da autora Carolina Maria de Jesus. Em sua obra, a autora
destaca toda a miséria em que ela e seus vizinhos, da comunidade de Canindé,
vivam, durante o período dos anos 50 – 60, em forma de um diário que ela mesma
escrevia, com cadernos que ela encontrava no lixo, enquanto trabalhava catando
papel.
Um livro com, no máximo,
191 páginas, da editora Ática, é uma tremenda lição de vida e de sobrevivência.
Foram vários tapas na cara. Vários socos no estômago. Apesar de ser um livro
pequeno, ele traz reflexões acerca dos maus tratos e da negligência política em
que o povo da favela é submetido. Além da fome e da falta de emprego. Eles vivam
completamente sem saneamento básico, morando em barracões feitos com papelão,
precisando levantar muito cedo para buscar água, longe. Não foi uma nem duas
vezes, que a nossa autora relatou faltar comida para ela e seus três filhos...
Além das questões
miseráveis em que esses cidadãos (em sua maioria, negros) viviam, a autora
registra, também, os comportamentos das pessoas que moravam nesse lugar. Ao ler
o livro, me recordei em vários momentos da obra “O cortiço”, de Aluízio de
Azevedo. A diferença é que para o Azevedo a favela era um “cortiço”, enquanto
que, para Carolina de Jesus, a favela é “um quarto de despejo”, pois, segundo
ela, é para lá, que os governantes mandam os menos favorecidos, sempre com a
promessa de que irão ajudá – los, mas isso nós sabemos que... Né?!
Assim como em “O
cortiço”, temos, também, em “Quarto de despejo”, mulheres muito fortes,
trabalhadoras, mães que dão cada gota de seu suor para alimentar as suas,
geralmente, muitas crianças. Além daquelas que passam seus dias a namorar... A
prostituir-se... Meninas jovens, entre 15 e 16 anos, já entrando nesse tipo de
vida. Um fato que a autora lamentava bastante, até. Mulheres que veem na
gravidez uma forma de “amarrar um homem”... Famílias desestruturadas. Homens
que bebem e batem em mulheres, nos filhos. Algumas vezes até matam... Escândalos,
briga de marido e mulher no meio da rua... Temos uma vendinha (ora, pois...), a
qual o dono era um português.
Os filhos de Carolina
de Jesus frequentavam, com muito custo, a escola. Mas, infelizmente, essa não
era a realidade da maioria das crianças. Enquanto que a obra “O cortiço” é
reconhecida como literatura realista/ naturalista. “Quarto de despejo” é uma
obra considerada como “literatura – verdade”. Eu posso dizer, até, como leitora
de ambos, que este livro é a prova real de tudo que Álvarez de Azevedo quis
retratar em 1850. Tanto a crítica social e política que ele abordou, quanto ao
comportamento naturalista/determinista tão bem representados por meio de seus
personagens.
Considero “Quarto de
despejo: diário de uma favelada” uma excelente leitura. É uma obra que a gente
não consegue ler rápido. Pelo menos eu não consegui. Era uma página e uma
respirada. Outra página e mais uma respirada... Porque, apesar de não ser esta
a intenção da obra, querendo ou não, a gente, que não vive nessas condições
diariamente, passa a refletir sobre os valores que damos ao emprego que temos,
à comida que comemos... Às roupas que vestimos... À escola que nós, ou nossos
filhos, frequentamos. Eu, no lugar da autora, com certeza, não suportaria um
ano! O que me faz lembrar a grandiosidade dessa mulher, que somente depois de
sua morte seu nome e sua obra foram reconhecidos e valorizarados. (Aquele clichê que
a gente já espera, né...). Atualmente,
Carolina Maria de Jesus recebeu da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ) o título de “Doutora Honoris Causa”.
Para quem não sabe, “Quarto
de despejo” completa, em agosto deste ano, 61 anos que foi publicado pela
primeira vez, com a ajuda do repórter Audálio Dantas. E, somente agora, sua obra está tendo a
merecida repercussão. Eu, como professora de Literatura, não entendo como este
livro ainda não se tornou leitura obrigatória em escolas de Ensino Médio. Um
fato que, no meu ponto de vista, precisa ser repensado.
Talvez, para alguns
leitores, o livro poderá ser um pouco chato e cansativo, já que nele muitas
informações são repetidas. No entanto, isso faz parte do gênero textual em
questão, sobretudo quando se trata de pessoas que lutam para ter um pingo de
dignidade na vida. A linguagem da autora
também não é culta, mas isso não atrapalha a compreensão da mensagem que ela
pretendia nos passar. A editora procurou ter esse cuidado de manter a
originalidade da autora. Lembrando que Carolina Maria de Jesus era uma mulher
pobre, negra e com pouca instrução educacional, que também vivia naquele meio
social precário.
“Quarto de despejo:
diário de uma favelada”, um retrato cruel de um Brasil de verdade. Best-seller.
Foi traduzido para mais de 13 línguas. Então, meu querido? Está fazendo o quê,
que ainda não leu este livro?! Bora lá!
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